outubro 25, 2017

desculpe, mas
depois de entrar
em conflito agora
sei que seria uma 
covardia hastear a
bandeira branca
nada contra ninguém,
estou desarmada para
batalhar por e contra mim 
e sem me esconder nas 
trincheiras com medo do 
confronto
em tempo, sei que
vencer implica estar 
em batalha, portanto,
se não há luta 
aceito a paz de 
não me conhecer
dou continência 
à vida, prossigo

Cáh Morandi

outubro 24, 2017

não desconfiava
que olhar o relógio
tantas vezes já
era ter pressa
de ti

que o mormaço
da noite já era fogo,
que os lábios secos
já eram a sede que
eu tinha de você,
que o arrepio
despertando o
meu peito já era
me servir como
tua rede

sem saber
respirando eu
estava à postos e
parecia ser normal
como todo humano:
sob-viver com os danos

mas aí
você

Cáh Morandi

outubro 03, 2017

sem qualquer cuidado
coloco essa compressa
de realidade às pressas
sobre esta ferida de
amor
querendo 
e com a impossibilidade 
de morrer, como dizer
ao coração que
ele sobreviveria?
trêmula
de muito longe vejo
a cura à passos curtos
para os sangramentos 
lentos

Cáh Morandi
que eu não
permita viver 
tateando
o amor no 
escuro
meu coração, por
favor, não se 
conforme com
as vendas
que queiram
lhe cegar
que no amor
eu não perca
tempo e não
tenha medo
o medo de perder
faz perder sempre
antes do tempo

Cáh Morandi
apesar do
controle estou
prestes a derrapar
na curva molhada 
desse sorriso
(que riso)
pecado me
fazer isso
e ser livre
para me
torturar
ciente do
acidente:
me espera
confrontar
em você?

Cáh Morandi

julho 25, 2017

poematicamente
me dedico no tempo
que nos afasta a 
descalcular todas
as distâncias
porque o que separa
não mede tudo onde
há recipro-cidades
me permito 
o viver em 
tempos de
rara-idades
intens-idades
possibil-idades
incalculáveis

Cáh Morandi

julho 17, 2017

não posso entrar
porque não sei o
segredo com que
te abro, mesmo que
tenha caminhado até 
aqui entre todas 
tuas camadas
paredes de esconderijos
para tentar atravessar
muralhas chinesas
para me demarcar
labirintos infinitos
para me orientar
como me dissolver ou
como me fazer absorver
para saber o que
há do outro lado
de você?

Cáh Morandi
prefiro pensar que
não estava escrito
que não houve 
pré-destinação
que havia de 
ser porque sim
e não havia a
opção do não
deixa-me crer
que teve a escolha
que ardeu o desejo
que poderia não ser
que era improvável
que ninguém apostaria
imaginar que o encontro
aconteceu depois que
perdemos o mapa e
andamos à beira de
todos os outros que
eram apenas destino

Cáh Morandi


julho 03, 2017

outro
se existisse
se pudesse
despertasse
conhecesse
jamais
te deixar
te trocar,
muito mais
aproximar-te
amar-te
oferecer-me
e aceitar-me,
eternizar-nos

Cáh Morandi

junho 27, 2017

não cai na
tentação da luta e
nem senti o desespero
por não ter o corpo
fechado
penso que viver é
mesmo ser assim
inten-in-sanamente
alguém de muitos
acessos para quem
chega ou quando canso
e, de repente, parto
não me demarcaram
não me afronteirei
sou um lugar livre
e se pareço sensível,
frágil e acessível, é 
exatamente isto
- você também já 
experimentou
estar vivo?

Cáh Morandi

junho 07, 2017

foi um susto ao
abrir a cortina
para o que vinha,
de repente um
clarão, de supetão
meu corpo cedeu
no chão, e me
vi atordoada dos
sentidos, meus
ouvidos sentiram
a vibração da luz
dos teus passos
desde então te sigo
no escuro e me sinto
estranhamente-iluminada
é certo que o
amor é cego,
porque meu Deus:
como você brilha.


Cáh Morandi

maio 30, 2017

de uma forma já
nem secreta e não
milagrosa como pensei
que seria, já nem tão
dolorida e nem cheia
de dedos
talvez um pouco ainda 
desconfortável
foi inquestionável
te desejar, mas
me caleja a tarefa
de te desconstruir
porque tem a parte de
mim que é irrecuperável
não é não te amar - mais.
é saber como te amar - ainda.

Cáh Morandi

maio 18, 2017

os milagres
importantes
acontecem
se estamos
distraídos
tudo muda e
bruscamente,
de repente e
sem alarde,
abrupta-
mente
basta não
entender e
pensar: que
presente a 
chance de
ter o segundo
à frente


Cáh Morandi

maio 17, 2017

é pé por pé que
venho até perto
da janela e ensaio
fechar as cortinas
do nosso encontro
tanta luz me cega 
e clareando me
sinto exposta,
indefesa e imóvel 
sem poder correr
do inevitável
mesmo assim 
tu chegas
antes para
se salvar

Cáh Morandi
tens toda uma
vida e te conheço 
só pelos teus
últimos anos

é certo, mas
considerei
engano

agora sei: pois
como sobreviver 
à viver 
intenso-sabendo-te
todo

(respiro)

Cáh Morandi
calma, não
há porque ter medo,
pois de novo, nada
é novo

não dê um
pulo pra trás,
não se assuste
ao ver tantos
possíveis destinos

pois
embora os caminhos 
sejam infinitos,
por onde você anda,
você se repete

Cáh Morandi


esse excesso de
vida presente me
transborda e não 
cabe o tudo que há
há como apagar os
dias inúteis e inertes
do passado para
preenchê-los desse
meu denso-agora?
vivia
sem saber que
te esperava e 
te esperava sem
saber como se
vivia

Cáh Morandi
sem supor o peso 
dos erros, sem sequer 
contar os danos, sem 
ao menos considerar
as perdas
é tão grave - e sabemos,
e por isso parecemos
não reconhecer os
estragos, é confortável 
mergulhar no raso e não
naufragar junto de tudo
que delicadamente
destruímos
melhor passar ao lado,
olhar de cima, apressar
o passo, fingir não sentir
nenhuma lástima, acreditar
que não houve vítima

Cáh Morandi
se eu sugar a memória
tentando recompor todos 
os traços, não será você
posso me debruçar sobre
tua caligrafia para decifrar
os enigmas, não estará você
provar o sal da lágrima
na boca para reviver o gosto
do toque, não trará você
entre o abismo do mundo em 
que você existe e este em que 
te imagino, como continuar caindo
sem saber se é indo até o fundo
que te encontro?

Cáh Morandi
para quem sempre
esquece, amar fica
bem mais fácil
por estar do outro
lado, doer fica
bem mais claro
mas não raro, é mais
doce, embora duro, ser
mais feliz quem tem
passado

Cáh Morandi


ansiosa, nas tuas margens
piso descalça no território
do quase-impossível
ao contrariar a lógica
ao enlouquecer a razão
ao desmitificar os ritos
ao assumir os riscos
e estar na esfera-espera 
a corroer em meu entorno
porque em mim
rompi todas as fronteiras:
agora, abres ou te invado
de onde venho para te amar
não há caminho de retorno

Cáh Morandi
o amor é sempre
um relógio atrasado
em muito tempo
em mim
por isso o ar de surpresa
como se não te esperasse,
porque de fato não sabia
que virias coroar os dias
antigos me percorrendo
pé por pé, ensaiando
o som de meu assoalho
aceito amar sem saber
a espera, sem premeditar,
sem questionar de que
futuro você vem me
desvendando

Cáh Morandi
desejei ter amado
antes, mas não sei
quais esquinas em
eu estava distraída
ou com tanta pressa 
a ponto de não
reconhecê-lo
foi preciso tropeçar
para me distrair, e
gritar de dor ao bater
o coração na quina
do encontro
depois, embora me doa,
para não te perder
apaguei os nomes
das ruas e te dei
meu corpo como
endereço

Cáh Morandi
It is strange how the
world got small
when I started
repeat the roads
and not even
closing my eyes
too hard
I awoke that
apocalypse
I thought
expected
but I have been imagining
that the world can again
be great at a time
when I am renewed
In a child’s hope
I remember the summer rains
and being purposely
unprotected I feel
infinitely sunny

Cáh Morandi

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